Edição carioca da Copa dos Refugiados começa com protagonismo feminino
Mulheres refugiadas e migrantes foram destaque em debates sobre os desafios da integração no Brasil e em desfile de moda no Centro Cultural Banco do Brasil.
A refugiada de Gâmbia, Mariama Bah, falou sobre como o racismo atrapalha a integração no Brasil. Ao lado dela (à direita na foto), a colombiana Ninibe Forero.
Rio de Janeiro, 02 de agosto de 2018 – A Copa dos Refugiados chegou ao Rio de Janeiro. O torneio, organizado pela ONG África do Coração e pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com o apoio do PARES Cáritas RJ e da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre outras organizações da sociedade civil, ganha sua primeira edição carioca após ter feito campeões em São Paulo e Porto Alegre.
As partidas serão realizadas neste sábado (4), com cerca de 160 jogadores, de oito países, em busca do título e da honra de representar o estado no torneio nacional previsto para setembro. Mas as estrelas do primeiro dia de atividades, na quarta-feira, não foram eles, mas elas: as mulheres refugiadas.
O palco tampouco foi um campo de futebol, mas o histórico e charmoso edifício do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Reunidas para o ciclo de palestras "Voz dos Refugiados", mulheres migrantes e em situação de refúgio de fato se fizeram ouvir com os seus relatos de vivência no Brasil.
A primeira mesa da tarde deu o tom de como seria o evento, ao tratar dos limites e possibilidades da mulher refugiada e migrante no país. Benazira Djoco, refugiada da Guiné-Bissau e embaixadora da África do Coração, fez um apelo para que se invista na integração dos refugiados, sobretudo das mulheres.
"Peço que as empresas adotem a postura de capacitar e contratar refugiadas. Sei que o país tem muitos problemas, mas às vezes só precisamos de uma chance para mostrar a nossa capacidade", disse a guineense, que chegou ao Brasil em 2001, com 15 anos de idade.
Em seguida, a congolesa Mireille Muluila compartilhou sua experiência como agente de Integração Local da Cáritas RJ junto a mulheres em situação de refúgio. "O meu trabalho é apoiar as mulheres que chegam hoje da mesma forma como eu cheguei ontem", explicou Mireille no início da sua fala.
"Precisamos falar dos desafios de integração dessas mulheres, que muitas vezes chegam com crianças e sem o marido do lado. Em primeiro lugar vem a dificuldade do idioma. Depois, elas sofrem para conseguir trabalho. E, quando conseguem, não encontram uma creche onde possam deixar as crianças", destacou a congolesa.
Na segunda mesa, que tratou da violação e da garantia de direitos dos refugiados no Brasil, a gambiana Mariama Bah reforçou as palavras das companheiras, citou Nelson Mandela e Malala Yousafzai e apontou o racismo como um entrave no acesso aos direitos.
"Além de mulher, sou negra, africana e refugiada, o que não é fácil. Mas queremos contribuir no Brasil."
Em seguida, a colombiana Ninibe Forero contou sobre a sua trajetória de 9 mil quilômetros percorridos de carro até o Brasil, com a família, em busca de refúgio, e disse que hoje lida melhor com a condição de refugiada do que no passado.
Além das falas contundentes, o outro ponto alto do evento que exaltou o protagonismo feminino foi o desfile da estilista senegalesa Mama Diop (@mamanossacultura nas redes sociais), que vive em São Paulo. Ela exibiu mais de 30 modelos, todos costurados com autênticos tecidos étnicos, para um grande público no hall de entrada do CCBB, uma das instituições culturais mais visitadas do mundo.
"Estou muito feliz com esse desfile", reconheceu a senegalesa após os aplausos. "Sinto uma alegria ao ver brasileiros e até estrangeiros vestindo minhas roupas", acrescentou Mama Diop, revelando que envia encomendas para vários países do mundo.
A ampla programação da Copa dos Refugiados incluiu também as crianças. Nesta quinta-feira, cerca de 100 meninos e meninas de países como Venezuela, Angola e República Democrática do Congo tiveram um dia de brincadeiras em diferentes passeios pela cidade. Enquanto um grupo foi para o parque de diversões Hot Zone, outro teve a oportunidade de conhecer a fauna marinha do AquaRio antes de seguir para o Museu da República, onde houve contação de histórias e até teatro. As atividades tiveram o apoio do Sesc RJ e da Cáritas RJ.
O lançamento oficial da Copa dos Refugiados será na manhã desta sexta-feira, no auditório do Maracanã. Um sorteio definirá os confrontos a serem disputados no sábado, no Centro de Futebol Zico (CFZ). As equipes participantes são Angola, Colômbia, Congo, Guiné-Bissau, Haiti, Senegal, Síria e Venezuela.
Texto e fotos: Diogo Felix
As partidas serão realizadas neste sábado (4), com cerca de 160 jogadores, de oito países, em busca do título e da honra de representar o estado no torneio nacional previsto para setembro. Mas as estrelas do primeiro dia de atividades, na quarta-feira, não foram eles, mas elas: as mulheres refugiadas.
O palco tampouco foi um campo de futebol, mas o histórico e charmoso edifício do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Reunidas para o ciclo de palestras "Voz dos Refugiados", mulheres migrantes e em situação de refúgio de fato se fizeram ouvir com os seus relatos de vivência no Brasil.
A primeira mesa da tarde deu o tom de como seria o evento, ao tratar dos limites e possibilidades da mulher refugiada e migrante no país. Benazira Djoco, refugiada da Guiné-Bissau e embaixadora da África do Coração, fez um apelo para que se invista na integração dos refugiados, sobretudo das mulheres.
"Peço que as empresas adotem a postura de capacitar e contratar refugiadas. Sei que o país tem muitos problemas, mas às vezes só precisamos de uma chance para mostrar a nossa capacidade", disse a guineense, que chegou ao Brasil em 2001, com 15 anos de idade.
Em seguida, a congolesa Mireille Muluila compartilhou sua experiência como agente de Integração Local da Cáritas RJ junto a mulheres em situação de refúgio. "O meu trabalho é apoiar as mulheres que chegam hoje da mesma forma como eu cheguei ontem", explicou Mireille no início da sua fala.
"Precisamos falar dos desafios de integração dessas mulheres, que muitas vezes chegam com crianças e sem o marido do lado. Em primeiro lugar vem a dificuldade do idioma. Depois, elas sofrem para conseguir trabalho. E, quando conseguem, não encontram uma creche onde possam deixar as crianças", destacou a congolesa.
Na segunda mesa, que tratou da violação e da garantia de direitos dos refugiados no Brasil, a gambiana Mariama Bah reforçou as palavras das companheiras, citou Nelson Mandela e Malala Yousafzai e apontou o racismo como um entrave no acesso aos direitos.
"Além de mulher, sou negra, africana e refugiada, o que não é fácil. Mas queremos contribuir no Brasil."
Em seguida, a colombiana Ninibe Forero contou sobre a sua trajetória de 9 mil quilômetros percorridos de carro até o Brasil, com a família, em busca de refúgio, e disse que hoje lida melhor com a condição de refugiada do que no passado.
Além das falas contundentes, o outro ponto alto do evento que exaltou o protagonismo feminino foi o desfile da estilista senegalesa Mama Diop (@mamanossacultura nas redes sociais), que vive em São Paulo. Ela exibiu mais de 30 modelos, todos costurados com autênticos tecidos étnicos, para um grande público no hall de entrada do CCBB, uma das instituições culturais mais visitadas do mundo.
"Estou muito feliz com esse desfile", reconheceu a senegalesa após os aplausos. "Sinto uma alegria ao ver brasileiros e até estrangeiros vestindo minhas roupas", acrescentou Mama Diop, revelando que envia encomendas para vários países do mundo.
A ampla programação da Copa dos Refugiados incluiu também as crianças. Nesta quinta-feira, cerca de 100 meninos e meninas de países como Venezuela, Angola e República Democrática do Congo tiveram um dia de brincadeiras em diferentes passeios pela cidade. Enquanto um grupo foi para o parque de diversões Hot Zone, outro teve a oportunidade de conhecer a fauna marinha do AquaRio antes de seguir para o Museu da República, onde houve contação de histórias e até teatro. As atividades tiveram o apoio do Sesc RJ e da Cáritas RJ.
O lançamento oficial da Copa dos Refugiados será na manhã desta sexta-feira, no auditório do Maracanã. Um sorteio definirá os confrontos a serem disputados no sábado, no Centro de Futebol Zico (CFZ). As equipes participantes são Angola, Colômbia, Congo, Guiné-Bissau, Haiti, Senegal, Síria e Venezuela.
Texto e fotos: Diogo Felix
Dois dos mais de 30 modelos apresentados pela estilista senegalesa Mama Diop, no hall de entrada do CCBB, durante evento da Copa dos Refugiados..