Venezuelana tem diploma revalidado no Brasil e conquista
bolsa de pesquisa na UERJ
bolsa de pesquisa na UERJ
Há quase três anos no país, a jornalista recebeu apoio da Cáritas RJ desde sua chegada, e agora se orgulha de voltar a atuar em sua área e poder apoiar outros refugiados
Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2022 - Trabalhar no jornalismo, sua área de formação, parecia um sonho distante quando Elvimar Yamarthee chegou ao Brasil. Na Venezuela, em 2017, a jovem recém-formada trabalhou por algum tempo no jornal Versión Final, onde havia estagiado. Mas o medo da violência contra a imprensa a fez deixar a redação e direcionar a carreira para a pesquisa acadêmica. Poucas semanas após ela sair do emprego, lançaram uma bomba no estacionamento do jornal, confirmando o temor que ela sentia de atuar na profissão naquele contexto. Ainda assim, na época, Elvimar não pensava em deixar a terra natal. Ela planejava iniciar um mestrado e no futuro, quem sabe, dar aulas no curso de comunicação. Após seu país passar por inúmeros apagões de energia elétrica e ela ter dificuldades de encontrar medicações para tratar uma hepatite, Elvimar concluiu que prosseguir na Venezuela seria insustentável.
Em 2019, seu marido já vivia no Brasil e ela chegou para tentar reconstruir seu casamento. Elvimar não falava português e estava sem trabalho. Ele se sustentava com trabalhos irregulares e não a incentivava a buscar independência financeira. A venezuelana não se acomodou: foi à Cáritas RJ em busca de orientações para solicitar o refúgio e passou a frequentar as aulas de português. “Não tenho como definir o que foi o acolhimento naquele momento. Na Cáritas RJ, comecei a conhecer pessoas, fazer redes, além de ser orientada a organizar minha documentação e currículo. Fui muito bem recebida e me senti fazendo parte da comunidade mesmo”, recorda a jornalista.
Foi ali que ela dividiu com uma assistente social o sonho de voltar a trabalhar na área da comunicação e ingressar num mestrado. Também conheceu o trabalho da organização Compassiva, que auxilia no processo de revalidação de diplomas. Como Elvimar era solicitante de refúgio, ainda não era possível pedir a emissão de documentos permanentes, como a revalidação do diploma. Mas a possibilidade futura não saiu de sua cabeça.
A aprovação do pedido de refúgio chegou em seis meses. O casamento se desfez, mas ela não pensou em deixar o Brasil. Foi aperfeiçoando o português e conseguiu alguns trabalhos temporários. O próximo passo era buscar o reconhecimento de sua formação. Era o momento de buscar a organização que lhe haviam recomendado.
Obstáculos e conquistas
Ao receber a lista dos documentos necessários para o processo, veio a surpresa. Além do diploma, era preciso apresentar o programa de disciplinas da universidade. Elvimar não tinha esse documento porque, ao deixar a Venezuela, a instituição onde havia estudado estava fechada. Ela chegou a pedir a parentes e amigos que solicitassem o documento na universidade, mas não havia ninguém disponível na instituição para validá-lo. No entanto, a orientação recebida na Compassiva lhe deu esperanças. “Eles explicaram que, pela minha situação de refugiada, as instituições acadêmicas no Brasil entendiam que nem sempre era possível sair do país com todos os documentos e que nesses casos o processo poderia seguir mesmo com alguns papéis faltando”, conta Elvimar. Assim, ela deu entrada no processo.
“Nesse tempo todo, o pessoal da Cáritas RJ seguia me apoiando. Não só com as aulas de português, orientações para conseguir auxílio financeiro ou indicações para trabalho. Eles comemoravam comigo cada etapa do processo que avançava, sempre torceram por mim”, relata.
Após alguns meses, veio a boa notícia da aprovação do processo. “Coloquei no Google Tradutor para confirmar se eu estava mesmo entendendo bem. Fiz uma chamada de vídeo com meus pais e eles choraram de emoção”, recorda.
A revalidação de seu diploma no Brasil foi o início de novas conquistas. Semanas depois, uma assistente social da Cáritas RJ fez contato, informando que havia uma vaga no Laboratório de Estudos de Imigração da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (LABIMI/UERJ) para uma pessoa refugiada com formação em Jornalismo e diploma revalidado no país. A mensagem dizia: “Acho que a vaga é para você. Posso mandar seu contato?”. Elvimar concordou e foi seleionada após análise de currículo e entrevista.
“A Cáritas RJ tem um papel muito importante no primeiro acolhimento, orientação para a solicitação de refúgio e outras demandas urgentes na chegada, como atendimento de saúde, organização de documentos, acesso a auxílios de renda básica. Mas nosso papel vai além: pensamos sempre em como apoiar o refugiado a retomar sua vida aqui. O caso da Elvimar é uma história que comemoramos, porque ela alcançou aquilo que a gente sempre deseja, a autonomia no Brasil”, comemora Débora Alves, coordenadora de Integração Local da Cáritas RJ.
Perto de completar três anos vivendo no Brasil, Elvimar está em uma situação mais estabilizada, mas ela não descansa. Seu tempo se divide entre as leituras para a pesquisa no LABIMI, entrevistas com outros refugiados e o trabalho voluntário que realiza como intérprete na Cáritas RJ. Seu objetivo agora é tentar uma vaga no mestrado com enfoque no tema do refúgio.
“Estou encantada como esse novo mundo na pesquisa que se abriu para mim. Eu me reconheço e entendo mais da minha própria história quando escuto outros refugiados falando. Quero ler tudo, pesquisar sobre tudo. A vivência aqui no laboratório vai me ajudar muito a me preparar para ingressar no mestrado”, afirma Elvimar, confiante no futuro.
Texto: Clarice Basso
Fotos: Arquivo pessoal
Em 2019, seu marido já vivia no Brasil e ela chegou para tentar reconstruir seu casamento. Elvimar não falava português e estava sem trabalho. Ele se sustentava com trabalhos irregulares e não a incentivava a buscar independência financeira. A venezuelana não se acomodou: foi à Cáritas RJ em busca de orientações para solicitar o refúgio e passou a frequentar as aulas de português. “Não tenho como definir o que foi o acolhimento naquele momento. Na Cáritas RJ, comecei a conhecer pessoas, fazer redes, além de ser orientada a organizar minha documentação e currículo. Fui muito bem recebida e me senti fazendo parte da comunidade mesmo”, recorda a jornalista.
Foi ali que ela dividiu com uma assistente social o sonho de voltar a trabalhar na área da comunicação e ingressar num mestrado. Também conheceu o trabalho da organização Compassiva, que auxilia no processo de revalidação de diplomas. Como Elvimar era solicitante de refúgio, ainda não era possível pedir a emissão de documentos permanentes, como a revalidação do diploma. Mas a possibilidade futura não saiu de sua cabeça.
A aprovação do pedido de refúgio chegou em seis meses. O casamento se desfez, mas ela não pensou em deixar o Brasil. Foi aperfeiçoando o português e conseguiu alguns trabalhos temporários. O próximo passo era buscar o reconhecimento de sua formação. Era o momento de buscar a organização que lhe haviam recomendado.
Obstáculos e conquistas
Ao receber a lista dos documentos necessários para o processo, veio a surpresa. Além do diploma, era preciso apresentar o programa de disciplinas da universidade. Elvimar não tinha esse documento porque, ao deixar a Venezuela, a instituição onde havia estudado estava fechada. Ela chegou a pedir a parentes e amigos que solicitassem o documento na universidade, mas não havia ninguém disponível na instituição para validá-lo. No entanto, a orientação recebida na Compassiva lhe deu esperanças. “Eles explicaram que, pela minha situação de refugiada, as instituições acadêmicas no Brasil entendiam que nem sempre era possível sair do país com todos os documentos e que nesses casos o processo poderia seguir mesmo com alguns papéis faltando”, conta Elvimar. Assim, ela deu entrada no processo.
“Nesse tempo todo, o pessoal da Cáritas RJ seguia me apoiando. Não só com as aulas de português, orientações para conseguir auxílio financeiro ou indicações para trabalho. Eles comemoravam comigo cada etapa do processo que avançava, sempre torceram por mim”, relata.
Após alguns meses, veio a boa notícia da aprovação do processo. “Coloquei no Google Tradutor para confirmar se eu estava mesmo entendendo bem. Fiz uma chamada de vídeo com meus pais e eles choraram de emoção”, recorda.
A revalidação de seu diploma no Brasil foi o início de novas conquistas. Semanas depois, uma assistente social da Cáritas RJ fez contato, informando que havia uma vaga no Laboratório de Estudos de Imigração da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (LABIMI/UERJ) para uma pessoa refugiada com formação em Jornalismo e diploma revalidado no país. A mensagem dizia: “Acho que a vaga é para você. Posso mandar seu contato?”. Elvimar concordou e foi seleionada após análise de currículo e entrevista.
“A Cáritas RJ tem um papel muito importante no primeiro acolhimento, orientação para a solicitação de refúgio e outras demandas urgentes na chegada, como atendimento de saúde, organização de documentos, acesso a auxílios de renda básica. Mas nosso papel vai além: pensamos sempre em como apoiar o refugiado a retomar sua vida aqui. O caso da Elvimar é uma história que comemoramos, porque ela alcançou aquilo que a gente sempre deseja, a autonomia no Brasil”, comemora Débora Alves, coordenadora de Integração Local da Cáritas RJ.
Perto de completar três anos vivendo no Brasil, Elvimar está em uma situação mais estabilizada, mas ela não descansa. Seu tempo se divide entre as leituras para a pesquisa no LABIMI, entrevistas com outros refugiados e o trabalho voluntário que realiza como intérprete na Cáritas RJ. Seu objetivo agora é tentar uma vaga no mestrado com enfoque no tema do refúgio.
“Estou encantada como esse novo mundo na pesquisa que se abriu para mim. Eu me reconheço e entendo mais da minha própria história quando escuto outros refugiados falando. Quero ler tudo, pesquisar sobre tudo. A vivência aqui no laboratório vai me ajudar muito a me preparar para ingressar no mestrado”, afirma Elvimar, confiante no futuro.
Texto: Clarice Basso
Fotos: Arquivo pessoal