Evelyne, Senegal 03/02/2015
"Aprendi português graças ao Exaltasamba. Eu ouvia as músicas com um dicionário na mão. O meu sonho é conhecer o Péricles."
Em abril de 2013, Evelyne chegou ao Brasil. Nascida no Senegal, ela fugiu de casa porque sua família queria casá-la com um abastado chefe religioso, contra sua vontade. Após sofrer castigos físicos diários da própria mãe, a jovem pagou uma pessoa para colocá-la em um navio rumo a Santos. Ela achava que estava indo para a Espanha. Por sorte, encontrou um senegalês que lhe pagou uma passagem para Caxias do Sul (RS).
"Dou graças a Deus por ter chegado sã e salva e por ter encontrado alguém que tenha me ajudado."
No Sul, Evelyne conseguiu emprego em um restaurante, mas após 8 meses decidiu largar tudo para retomar os estudos. No Senegal, ela tinha cursado um semestre de Letras. No Brasil, a exigência do vestibular e o valor das mensalidades abalaram seus planos, mas não o suficiente para que ela desistisse. A mudança para o Rio foi uma aposta. Solicitante de refúgio, a senegalesa está trabalhando como camelô para juntar dinheiro, mas se matriculou em um curso técnico de informática "para sair da rua". O desejo, porém, é passar no vestibular e fazer uma faculdade.
"Sou jovem, tenho 23 anos. Quero estudar para ter uma boa carreira. Porque um dia eu me caso, fico dependente do marido e depois ele me larga. Quero ter um bom trabalho para ajudar meus seis irmãos que ficaram no Senegal. E minha mãe também. Porque, apesar de tudo, ela é minha mãe. Adoraria voltar um dia ao Senegal e que ela entendesse por que tomei essa decisão. Estou sozinha no Brasil."
Em abril de 2013, Evelyne chegou ao Brasil. Nascida no Senegal, ela fugiu de casa porque sua família queria casá-la com um abastado chefe religioso, contra sua vontade. Após sofrer castigos físicos diários da própria mãe, a jovem pagou uma pessoa para colocá-la em um navio rumo a Santos. Ela achava que estava indo para a Espanha. Por sorte, encontrou um senegalês que lhe pagou uma passagem para Caxias do Sul (RS).
"Dou graças a Deus por ter chegado sã e salva e por ter encontrado alguém que tenha me ajudado."
No Sul, Evelyne conseguiu emprego em um restaurante, mas após 8 meses decidiu largar tudo para retomar os estudos. No Senegal, ela tinha cursado um semestre de Letras. No Brasil, a exigência do vestibular e o valor das mensalidades abalaram seus planos, mas não o suficiente para que ela desistisse. A mudança para o Rio foi uma aposta. Solicitante de refúgio, a senegalesa está trabalhando como camelô para juntar dinheiro, mas se matriculou em um curso técnico de informática "para sair da rua". O desejo, porém, é passar no vestibular e fazer uma faculdade.
"Sou jovem, tenho 23 anos. Quero estudar para ter uma boa carreira. Porque um dia eu me caso, fico dependente do marido e depois ele me larga. Quero ter um bom trabalho para ajudar meus seis irmãos que ficaram no Senegal. E minha mãe também. Porque, apesar de tudo, ela é minha mãe. Adoraria voltar um dia ao Senegal e que ela entendesse por que tomei essa decisão. Estou sozinha no Brasil."
Latifat, Nigéria 17/09/2015
"Meu marido é político. Uma noite, ele estava na sala com três das nossas quatro filhas, de 15, 13 e 10 anos. Eu estava no quarto com a outra, de cinco. De repente, vi três pessoas do lado de fora da casa. Avistei uma arma e me perguntei o que estava acontecendo. Eles entraram e pegaram meu marido e minhas filhas. Consegui fugir para a casa da minha mãe com a outra filha que estava comigo. Depois ligaram para lá e falaram que iriam atrás de mim. Com a ajuda de um amigo do meu marido, consegui vir para o Brasil com a minha filha. Até hoje não tenho notícias do meu marido nem das meninas."
Quando a nigeriana Latifat chegou à Cáritas RJ, há alguns meses, mal conseguia falar. Poucas vezes vimos uma mulher tão elegante e impecavelmente vestida, mas o rosto sem expressão escondia uma dor inimaginável. Acolhida com a filha de cinco anos na Casa de Apoio do Padre Alex Coelho, em Botafogo, ela aos poucos foi reunindo forças para reagir. Hoje, já esboça um sorriso, mas ainda precisa de ajuda para construir uma nova vida no Brasil.
"Minha cabeça não estava boa, agora está ficando melhor. E meu coração já não palpita tanto. Quero arrumar um trabalho, qualquer trabalho, porque preciso de dinheiro."
Quando a nigeriana Latifat chegou à Cáritas RJ, há alguns meses, mal conseguia falar. Poucas vezes vimos uma mulher tão elegante e impecavelmente vestida, mas o rosto sem expressão escondia uma dor inimaginável. Acolhida com a filha de cinco anos na Casa de Apoio do Padre Alex Coelho, em Botafogo, ela aos poucos foi reunindo forças para reagir. Hoje, já esboça um sorriso, mas ainda precisa de ajuda para construir uma nova vida no Brasil.
"Minha cabeça não estava boa, agora está ficando melhor. E meu coração já não palpita tanto. Quero arrumar um trabalho, qualquer trabalho, porque preciso de dinheiro."
Augustine, República Democrática do Congo 06/11/2015
"Não vejo meus filhos há quatro anos. Eles ficaram com a minha mãe. São dois meninos mais velhos e uma menina de seis anos. Essa nem sabe direito quem eu sou. Isso me deixa muito triste."
Em 2011, Augustine saiu da República Democrática do Congo para pedir refúgio no Brasil. Ela veio sozinha. O marido havia morrido. Como sua família não tem computador, ela só pode matar as saudades dos filhos pelo telefone.
"O cartão para ligar para a África custa R$ 10 e só dá para quatro minutos. Antes eram 10 minutos, aí dava para conversar, saber como iam os estudos, explicar que eu estava trabalhando para mandar dinheiro para eles... Há muito tempo tento juntar dinheiro para trazê-los para o Brasil, mas não estou conseguindo. O pai não está, mas eu estou. Tenho que ficar perto deles, estão precisando de mim."
Há três meses, chegou sua irmã, mas a situação não melhorou. A congolesa estava trabalhando como cabeleireira em um salão, mas decidiu largar o emprego por discordar do valor que estavam lhe pagando por cliente.
"Lá na minha terra, você aprende a fazer cabelo naturalmente, ainda criança. Se tem uma irmã, uma boneca, pega e faz. Mas eu sou cabeleireira de verdade mesmo. Sei fazer bastante coisa. Quando eu me casei, tive que parar de trabalhar porque meu marido não queria. Lá no Congo é assim, você se casa e tem que ficar em casa. Nossos homens são diferentes dos de vocês. Se você sair para trabalhar eles acham que outros homens vão ficar olhando. E não gostam disso."
A história de Augustine é como a de muitos refugiados. Não se trata só de quem veio, mas também de quem ficou.
Em 2011, Augustine saiu da República Democrática do Congo para pedir refúgio no Brasil. Ela veio sozinha. O marido havia morrido. Como sua família não tem computador, ela só pode matar as saudades dos filhos pelo telefone.
"O cartão para ligar para a África custa R$ 10 e só dá para quatro minutos. Antes eram 10 minutos, aí dava para conversar, saber como iam os estudos, explicar que eu estava trabalhando para mandar dinheiro para eles... Há muito tempo tento juntar dinheiro para trazê-los para o Brasil, mas não estou conseguindo. O pai não está, mas eu estou. Tenho que ficar perto deles, estão precisando de mim."
Há três meses, chegou sua irmã, mas a situação não melhorou. A congolesa estava trabalhando como cabeleireira em um salão, mas decidiu largar o emprego por discordar do valor que estavam lhe pagando por cliente.
"Lá na minha terra, você aprende a fazer cabelo naturalmente, ainda criança. Se tem uma irmã, uma boneca, pega e faz. Mas eu sou cabeleireira de verdade mesmo. Sei fazer bastante coisa. Quando eu me casei, tive que parar de trabalhar porque meu marido não queria. Lá no Congo é assim, você se casa e tem que ficar em casa. Nossos homens são diferentes dos de vocês. Se você sair para trabalhar eles acham que outros homens vão ficar olhando. E não gostam disso."
A história de Augustine é como a de muitos refugiados. Não se trata só de quem veio, mas também de quem ficou.