Contrariando estatísticas, irmãos venezuelanos conseguem emprego em meio à pandemia
No momento em que grande parte dos refugiados estão desempregados, dois irmãos ganham oportunidade de trabalho numa rede de supermercados
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2020 – Oito milhões de vagas formais de emprego foram fechadas no Brasil entre março e maio de 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contrariando esses tristes números, os irmãos venezuelanos Felipe e José Antonio Quijada conseguiram, em maio, vagas de trabalho como auxiliares de limpeza em uma rede de supermercados do Rio de Janeiro.
Os dois vieram da Ilha de Margarita, ao norte da Venezuela, e migraram para o Brasil no início de 2020. O trajeto dos irmãos Quijano de Margarita até as terras cariocas, ponto final onde encontrariam a irmã que já morava há dois anos na cidade, foi árduo. Na mesma época em que viajar em voos comerciais da América do Sul para países do outro lado do mundo demoraria por volta de 30 horas, Felipe, José Antonio, seus pais e a namorada de José trilharam, com diferentes modais e paradas, uma jornada de cinco dias entre Margarita e Rio.
Um difícil percurso
A viagem dos venezuelanos se iniciou com o trajeto de barco saindo da Ilha de Margarita para atravessar o mar do Caribe e chegar em cinco horas à cidade de Puerto la Cruz, onde a tia dos jovens morava, no continente. Depois de dois dias na casa da tia, eles pegaram dois ônibus para chegar em Pacaraima, Roraima, totalizando mais de um dia de viagem. Felipe Quijano conta sobre as complicações ao realizar longas viagens de ônibus no interior da Venezuela.
“Os militares vão parando os ônibus e revistando as pessoas. E se alguém se mostra incomodado com a revista, eles levam os pertences dessa pessoa”.
Ao apresentar seus documentos na fronteira da Venezuela com o Brasil, a família recebeu autorização para entrar no país. Eles pegaram, então, um táxi para o aeroporto de Boa Vista, de onde sairia o voo deles para Brasília na madrugada do dia 30 de janeiro, última escala antes do Rio. No entanto, a chegada na capital de Roraima se deu antes, em 27 de janeiro, e a família Quijano não tinha agendado hospedagem para esses dois dias de espera na cidade. Nesse momento, foram essenciais as orientações de uma advogada que a irmã de Felipe e José Antonio, que morava no Rio de Janeiro, conseguiu para a família em Roraima: “A advogada nos ajudou, fez algumas recomendações, conseguiu estadia e comida para esperarmos o avião”, lembra Felipe Quijano.
Um difícil percurso
A viagem dos venezuelanos se iniciou com o trajeto de barco saindo da Ilha de Margarita para atravessar o mar do Caribe e chegar em cinco horas à cidade de Puerto la Cruz, onde a tia dos jovens morava, no continente. Depois de dois dias na casa da tia, eles pegaram dois ônibus para chegar em Pacaraima, Roraima, totalizando mais de um dia de viagem. Felipe Quijano conta sobre as complicações ao realizar longas viagens de ônibus no interior da Venezuela.
“Os militares vão parando os ônibus e revistando as pessoas. E se alguém se mostra incomodado com a revista, eles levam os pertences dessa pessoa”.
Ao apresentar seus documentos na fronteira da Venezuela com o Brasil, a família recebeu autorização para entrar no país. Eles pegaram, então, um táxi para o aeroporto de Boa Vista, de onde sairia o voo deles para Brasília na madrugada do dia 30 de janeiro, última escala antes do Rio. No entanto, a chegada na capital de Roraima se deu antes, em 27 de janeiro, e a família Quijano não tinha agendado hospedagem para esses dois dias de espera na cidade. Nesse momento, foram essenciais as orientações de uma advogada que a irmã de Felipe e José Antonio, que morava no Rio de Janeiro, conseguiu para a família em Roraima: “A advogada nos ajudou, fez algumas recomendações, conseguiu estadia e comida para esperarmos o avião”, lembra Felipe Quijano.
Chegando no Rio de Janeiro, Felipe, seu irmão José Antonio, a namorada de José Antonio e a mãe dos dois venezuelanos foram morar no bairro de Paciência, na Zona Oeste da cidade, junto da irmã deles. Antes de conseguirem emprego no supermercado, os irmãos, que hoje são solicitantes de refúgio, ajudavam como camelôs na barraca da família, localizada na estação de trem do mesmo bairro.
O novo emprego e a experiência no Brasil
José Antonio e Felipe Quijada começaram a procurar emprego formal quando chegaram no Rio de Janeiro, no final de janeiro. Eles souberam do processo seletivo para as vagas de auxiliar de limpeza pelo cunhado, também venezuelano, que já morava no Rio e trabalhava no mesmo ramo. Segundo Felipe, os empregadores brasileiros geralmente têm medo de contratar estrangeiros, por conta de questões contratuais especiais dessas comunidades. No entanto, no Brasil, os estrangeiros em situação de refúgio ou solicitantes têm acesso à Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), assim como aos mesmos direitos trabalhistas dos cidadãos brasileiros. Segundo Quijada, a rede de supermercados que contratou ele e seu irmão procurava especificamente por estrangeiros, pois seus empregadores consideram que pessoas vindas de outros países costumam permanecer mais tempo na empresa, sem muita rotatividade.
Após um processo seletivo, Felipe e seu irmão José Antonio foram aprovados, e estão empregados desde o mês de abril. Nesse momento de pandemia do novo coronavírus, os cuidados com a saúde têm sido de importância central no trabalho. “É obrigatório usar máscara, capacete e ter cuidado”, comenta Felipe. “Tem que medir a temperatura para ver se não tem esse sintoma, lavar as mãos, senão podemos até receber uma suspensão”, conta ele.
Para Felipe Quijada, a experiência como um venezuelano que fez do Rio de Janeiro sua nova casa tem sido bastante positiva. “As pessoas no Brasil te tratam bem, com carinho, e a nossa documentação foi fácil de resolver”, declara o jovem. Felipe e sua família tiveram, ao longo de sua trajetória no Brasil, auxílio do PARES Cáritas RJ:
“Nós recebemos atendimento da Cáritas RJ para resolver nossa documentação e, recentemente, para solicitar abertura de uma conta de banco. E para outras dúvidas, a Cáritas RJ sempre nos ajuda”.
Texto: João Paulo Rossini
Fotos: Arquivo pessoal e Paolo Costa Baldi. (Licença GFDL/CC-BY-SA 3.0)
O novo emprego e a experiência no Brasil
José Antonio e Felipe Quijada começaram a procurar emprego formal quando chegaram no Rio de Janeiro, no final de janeiro. Eles souberam do processo seletivo para as vagas de auxiliar de limpeza pelo cunhado, também venezuelano, que já morava no Rio e trabalhava no mesmo ramo. Segundo Felipe, os empregadores brasileiros geralmente têm medo de contratar estrangeiros, por conta de questões contratuais especiais dessas comunidades. No entanto, no Brasil, os estrangeiros em situação de refúgio ou solicitantes têm acesso à Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), assim como aos mesmos direitos trabalhistas dos cidadãos brasileiros. Segundo Quijada, a rede de supermercados que contratou ele e seu irmão procurava especificamente por estrangeiros, pois seus empregadores consideram que pessoas vindas de outros países costumam permanecer mais tempo na empresa, sem muita rotatividade.
Após um processo seletivo, Felipe e seu irmão José Antonio foram aprovados, e estão empregados desde o mês de abril. Nesse momento de pandemia do novo coronavírus, os cuidados com a saúde têm sido de importância central no trabalho. “É obrigatório usar máscara, capacete e ter cuidado”, comenta Felipe. “Tem que medir a temperatura para ver se não tem esse sintoma, lavar as mãos, senão podemos até receber uma suspensão”, conta ele.
Para Felipe Quijada, a experiência como um venezuelano que fez do Rio de Janeiro sua nova casa tem sido bastante positiva. “As pessoas no Brasil te tratam bem, com carinho, e a nossa documentação foi fácil de resolver”, declara o jovem. Felipe e sua família tiveram, ao longo de sua trajetória no Brasil, auxílio do PARES Cáritas RJ:
“Nós recebemos atendimento da Cáritas RJ para resolver nossa documentação e, recentemente, para solicitar abertura de uma conta de banco. E para outras dúvidas, a Cáritas RJ sempre nos ajuda”.
Texto: João Paulo Rossini
Fotos: Arquivo pessoal e Paolo Costa Baldi. (Licença GFDL/CC-BY-SA 3.0)