Venezuelanos recebem casa de brasileiro para recomeçar a vida no RJ
Sensibilizado por matéria de TV sobre venezuelanos, aposentado de Nova Iguaçu cede quitinete por tempo indeterminado para casal que chegou a dormir nas ruas de Roraima.
Os venezuelanos Victor e Beatriz na casa para a qual se mudaram recentemente, após o brasileiro Moacyr, dono do imóvel, ter se sensibilizado com a situação de uma família da Venezuela retratada na televisão. O casal agora espera encontrar trabalho e ter um filho brasileiro.
Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2018 – É o início de uma nova vida, a base de um novo começo. Foi assim que a venezuelana Beatriz Millán, de 38 anos, descreveu a etapa que está começando ao lado do marido, Victor Tallupo, de 33 anos, em um apartamento em Nova Iguaçu cedido por tempo indeterminado por um brasileiro, morador local.
A refugiada tem motivos para celebrar. Afinal, a nova fase chega após uma sequência de situações difíceis. Ela conta que resolveu deixar a Venezuela porque o salário de chefe de polícia e professora já não dava para comprar nem 1kg de arroz. Então, de ônibus e acompanhada do irmão, veio para o Brasil em fevereiro. "O Brasil era mais perto, mais fácil", explica.
Mas o início não foi nem um pouco fácil. Beatriz morou nas ruas de Boa Vista (RR) e passou dias sem comer nem tomar banho, antes de conseguir uma vaga em um abrigo administrado pelo Exército, com outros 500 compatriotas. O esposo só conseguiu vir da Venezuela dois meses depois.
Em julho, ela conseguiu uma oportunidade de se mudar para o Rio de Janeiro pelo processo de interiorização de venezuelanos do governo federal, mas teve que vir sozinha, já que a casa de acolhida do Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES) da Cáritas do Rio de Janeiro era destinada apenas a crianças e mulheres.
Como o período de permanência no abrigo deveria ser de, no máximo, três a seis meses, a equipe da Cáritas começou a trabalhar para que Beatriz e as demais moradoras da casa fossem inseridas no mercado de trabalho e, assim, conquistassem a autonomia financeira necessária para seguir em frente. No entanto, apesar de ter sido encaminhada para vários processos seletivos, Beatriz ainda tinha dificuldades para encontrar emprego.
"Minha situação econômica na cidade estava difícil. Eu estava catando latinhas na praia com três amigas, para conseguir dinheiro e ajudar parte da família que continua na Venezuela", lembra.
Foi aí que os caminhos de Beatriz e do aposentado Moacyr se cruzaram. O brasileiro procurou a Cáritas depois de ver uma matéria na televisão sobre uma venezuelana que estava no Brasil e não tinha condições de alimentar os próprios filhos. Dono de um quitinete vazio na cidade de Nova Iguaçu, ele decidiu cedê-lo a uma família da Venezuela que estivesse precisando de um teto para recomeçar.
"Aquela história me tocou, e eu decidi procurar alguém para fazer o bem. Procuro fazer a minha parte como ser humano", disse Moacyr, que preferiu não aparecer na foto.
Família reunida e em crescimento
A Cáritas solicitou a escritura do imóvel, verificou as condições do local, preparou um contrato de cessão e, por fim, intermediou o contato entre as partes. Beatriz foi escolhida por ter a possibilidade de se reunir com o marido, que ainda estava em Roraima, mas poderia vir em um voo de interiorização.
"A possibilidade de ter um local de moradia próprio possibilitou o reencontro da família, que estava separada havia alguns meses", explicou Debora Alves, coordenadora de Integração do PARES Cáritas RJ. O casal, informou, está recebendo um subsídio mensal para comprar alimentos e circular pela cidade enquanto não consegue colocação no mercado.
"Tendo um espaço de moradia e o apoio financeiro da Cáritas, eles têm maiores possibilidades de encontrar um trabalho, porque nós sabemos que a separação das famílias também repercute no processo de integração. Estando juntos, eles se fortalecem na busca por emprego", completou a assistente social.
"Minha vida mudou completamente", comemora Beatriz. "Estou numa casa muito bonita, muito acolhedora, e tenho meu esposo comigo. Ter a segurança de uma casa, com um lugar fixo, é uma bênção. É o início da nossa nova vida."
Para completar, a venezuelana revela que já existem até propostas de trabalho para o casal, com entrevistas marcadas. E comemora a boa nova com a expectativa grande de ampliar a família. "Eu tenho problema para ter filhos, mas sinto que agora é o meu momento. Meu filho vai nascer brasileiro", prevê Beatriz, emocionada.
Texto: Caroline Durand e Diogo Felix
Foto: Arquivo pessoal
A refugiada tem motivos para celebrar. Afinal, a nova fase chega após uma sequência de situações difíceis. Ela conta que resolveu deixar a Venezuela porque o salário de chefe de polícia e professora já não dava para comprar nem 1kg de arroz. Então, de ônibus e acompanhada do irmão, veio para o Brasil em fevereiro. "O Brasil era mais perto, mais fácil", explica.
Mas o início não foi nem um pouco fácil. Beatriz morou nas ruas de Boa Vista (RR) e passou dias sem comer nem tomar banho, antes de conseguir uma vaga em um abrigo administrado pelo Exército, com outros 500 compatriotas. O esposo só conseguiu vir da Venezuela dois meses depois.
Em julho, ela conseguiu uma oportunidade de se mudar para o Rio de Janeiro pelo processo de interiorização de venezuelanos do governo federal, mas teve que vir sozinha, já que a casa de acolhida do Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES) da Cáritas do Rio de Janeiro era destinada apenas a crianças e mulheres.
Como o período de permanência no abrigo deveria ser de, no máximo, três a seis meses, a equipe da Cáritas começou a trabalhar para que Beatriz e as demais moradoras da casa fossem inseridas no mercado de trabalho e, assim, conquistassem a autonomia financeira necessária para seguir em frente. No entanto, apesar de ter sido encaminhada para vários processos seletivos, Beatriz ainda tinha dificuldades para encontrar emprego.
"Minha situação econômica na cidade estava difícil. Eu estava catando latinhas na praia com três amigas, para conseguir dinheiro e ajudar parte da família que continua na Venezuela", lembra.
Foi aí que os caminhos de Beatriz e do aposentado Moacyr se cruzaram. O brasileiro procurou a Cáritas depois de ver uma matéria na televisão sobre uma venezuelana que estava no Brasil e não tinha condições de alimentar os próprios filhos. Dono de um quitinete vazio na cidade de Nova Iguaçu, ele decidiu cedê-lo a uma família da Venezuela que estivesse precisando de um teto para recomeçar.
"Aquela história me tocou, e eu decidi procurar alguém para fazer o bem. Procuro fazer a minha parte como ser humano", disse Moacyr, que preferiu não aparecer na foto.
Família reunida e em crescimento
A Cáritas solicitou a escritura do imóvel, verificou as condições do local, preparou um contrato de cessão e, por fim, intermediou o contato entre as partes. Beatriz foi escolhida por ter a possibilidade de se reunir com o marido, que ainda estava em Roraima, mas poderia vir em um voo de interiorização.
"A possibilidade de ter um local de moradia próprio possibilitou o reencontro da família, que estava separada havia alguns meses", explicou Debora Alves, coordenadora de Integração do PARES Cáritas RJ. O casal, informou, está recebendo um subsídio mensal para comprar alimentos e circular pela cidade enquanto não consegue colocação no mercado.
"Tendo um espaço de moradia e o apoio financeiro da Cáritas, eles têm maiores possibilidades de encontrar um trabalho, porque nós sabemos que a separação das famílias também repercute no processo de integração. Estando juntos, eles se fortalecem na busca por emprego", completou a assistente social.
"Minha vida mudou completamente", comemora Beatriz. "Estou numa casa muito bonita, muito acolhedora, e tenho meu esposo comigo. Ter a segurança de uma casa, com um lugar fixo, é uma bênção. É o início da nossa nova vida."
Para completar, a venezuelana revela que já existem até propostas de trabalho para o casal, com entrevistas marcadas. E comemora a boa nova com a expectativa grande de ampliar a família. "Eu tenho problema para ter filhos, mas sinto que agora é o meu momento. Meu filho vai nascer brasileiro", prevê Beatriz, emocionada.
Texto: Caroline Durand e Diogo Felix
Foto: Arquivo pessoal