Campanha virtual da Cáritas RJ alcança 162 famílias de refugiados em ano de pandemia
Em 2020, mobilização na plataforma Kickante e doações individuais permitiram aliviar a situação de 526 pessoas em situação de refúgio de 16 países
Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2020 - Felicidade e gratidão aos doadores: estes eram os sentimentos das famílias de refugiados de 16 nacionalidades que receberam, desde setembro, os recursos da campanha de financiamento coletivo lançada pelo PARES Cáritas RJ na plataforma Kickante no final de maio, beneficiando um número bem acima do esperado: 162 famílias receberam um apoio financeiro de R$ 400, que pôde ser utilizado para pagar o aluguel, comprar comida, ou para ser empregado no que cada núcleo familiar considerasse prioritário. O sucesso da campanha também se deveu às contribuições individuais realizadas neste período, efetuadas diretamente por depósito em conta bancária. Em agosto, no encerramento da campanha, havíamos ultrapassado a meta inicial de 55 mil reais, conseguindo angariar um total de R$64,800.
O angolano Nsimba Watsndu, de 48 anos, foi uma das pessoas que recebeu o recurso financeiro. No Brasil há 27 anos, ele tinha um pequeno salão de beleza, que não resistiu à crise econômica do país, agravada com a pandemia. "A situação ficou ainda mais difícil, estou sem trabalhar. Eu tive o meu salão por cinco anos, mas fui obrigado a fechá-lo em fevereiro, por causa da crise que entrou no Brasil. Com a pandemia as coisas pioraram, porque tudo parou". Casado e pai de três filhos, todos nascidos no Brasil, Nsimba conta como vai utilizar o dinheiro:
"Vou entregar essa ajuda para minha esposa, para fazermos mercado e botar comida em casa, porque não tínhamos nada mesmo. Queria agradecer aos que doaram. Que Deus os ajude, para que possam seguir ajudando outras pessoas. Tem muita gente precisando".
A campanha foi lançada como resposta à situação de vulnerabilidade das famílias de refugiados, que se agravou com a pandemia da Covid-19. Além de contarmos sempre com o apoio do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) em nossas ações, a iniciativa recebeu também o apoio do curso de idiomas Abraço Cultural, da startup social TOTI, da Associação das Defensoras e Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro (ADPERJ) e da Sociedade de Beneficência Humboldt, mantenedora do Colégio Cruzeiro.
Desde o início da pandemia, em março, quando o atendimento presencial na Cáritas RJ foi interrompido e passou a ser feito em modo remoto pelo WhatsApp, a equipe recebeu inúmeras mensagens de pessoas em situação de refúgio pedindo ajuda para sobreviver. |
Além de serem atingidas pela crise econômica, como ocorreu com os brasileiros e populações no mundo todo, pessoas em situação de refúgio passam por dificuldades ainda maiores, ressalta a coordenadora geral do PARES Cáritas RJ, Aline Thuller: "A pandemia do novo coronavírus gera em nós muito medo e incertezas. Mas esta situação é ainda pior para os refugiados, porque eles estão longe de seus países de origem, das suas redes de familiares e de amigos. Além do temor de adoecerem, eles também têm medo de como irão se sustentar num país distante do seu", disse Aline.
É o caso da colombiana Clara Mora, cabeleireira de 42 anos, que se viu impossibilitada de seguir trabalhando durante a pandemia, e não pôde contar com o apoio dos parentes, que vivem na Colômbia.
"Depois da pandemia, fiquei sem condições de trabalhar, e sem dinheiro para sustentar a mim e minha família. Está muito difícil. Vim com meu marido e meu filho, e moramos com mais quatro pessoas. Estamos em outro país, e não temos família, ou ninguém próximo que nos apoie".
Há mais de um ano e meio no Brasil, Clara conta que muitos colombianos já estavam sem trabalhar, seja pela falta da documentação necessária, ou por terem dificuldades com o idioma. Com o recurso recebido, ela planeja pagar o aluguel e comprar comida: "Nos ajudou muito. Agradeço às pessoas de bom coração, que ajudam aqueles que precisam, como nós. Não sabemos o que acontecerá daqui para frente, mas esperamos que o próximo ano seja melhor", conclui Clara, com esperança.
Há mais de um ano no Brasil, Julio Cesar Rossio perdeu o emprego no início da pandemia. O venezuelano de 27 anos trabalhava num posto de gasolina, e além de ficar desempregado, teve os seus documentos roubados. A falta de documentação no novo país complicou a situação de Julio Cesar, que só pensa em refazer seus documentos para poder voltar a trabalhar assim que possível:
"Preciso tirar meus documentos para buscar trabalho. Estou sozinho no Brasil, toda a minha família ficou na Venezuela. Graças a algumas amizades que fiz, recebi apoio, porque fiquei sem ter onde morar. Vou usar o dinheiro para comprar comida e ajudar as pessoas que têm me ajudado. Muito obrigado às pessoas que doaram."
É o caso da colombiana Clara Mora, cabeleireira de 42 anos, que se viu impossibilitada de seguir trabalhando durante a pandemia, e não pôde contar com o apoio dos parentes, que vivem na Colômbia.
"Depois da pandemia, fiquei sem condições de trabalhar, e sem dinheiro para sustentar a mim e minha família. Está muito difícil. Vim com meu marido e meu filho, e moramos com mais quatro pessoas. Estamos em outro país, e não temos família, ou ninguém próximo que nos apoie".
Há mais de um ano e meio no Brasil, Clara conta que muitos colombianos já estavam sem trabalhar, seja pela falta da documentação necessária, ou por terem dificuldades com o idioma. Com o recurso recebido, ela planeja pagar o aluguel e comprar comida: "Nos ajudou muito. Agradeço às pessoas de bom coração, que ajudam aqueles que precisam, como nós. Não sabemos o que acontecerá daqui para frente, mas esperamos que o próximo ano seja melhor", conclui Clara, com esperança.
Há mais de um ano no Brasil, Julio Cesar Rossio perdeu o emprego no início da pandemia. O venezuelano de 27 anos trabalhava num posto de gasolina, e além de ficar desempregado, teve os seus documentos roubados. A falta de documentação no novo país complicou a situação de Julio Cesar, que só pensa em refazer seus documentos para poder voltar a trabalhar assim que possível:
"Preciso tirar meus documentos para buscar trabalho. Estou sozinho no Brasil, toda a minha família ficou na Venezuela. Graças a algumas amizades que fiz, recebi apoio, porque fiquei sem ter onde morar. Vou usar o dinheiro para comprar comida e ajudar as pessoas que têm me ajudado. Muito obrigado às pessoas que doaram."
A gravidade da pandemia também se refletiu nos números. Até novembro deste ano, 3.475 pessoas foram atendidas pela Cáritas RJ, um aumento de cerca de 34% em relação ao total registrado em 2019*. No mesmo período deste ano, foram realizados 36.880 atendimentos. Os dados dos atendimentos incluem todas as vezes em que uma pessoa foi atendida durante o ano, somando todos os setores.
Glayibel Cedeno, venezuelana de 21 anos, está há mais de um ano no Rio de Janeiro com a filha de quatro anos, após passar três anos em Roraima. Durante a pandemia, ela tem vivido a mesma dificuldade de muitas mulheres, além do risco do contágio: o fechamento da creche da filha tornou mais difícil a busca por uma nova oportunidade de emprego. "Trabalhava num restaurante, e estávamos bem, porque minha filha ficava na creche. Quando veio a pandemia, eu estava no trabalho há apenas dois meses. Como eu era nova, fui mandada embora. A situação ficou difícil, ruim. A creche fechou, e eu não tenho como arrumar um trabalho, com minha filha em casa e todo mundo com medo do coronavírus", contou Glayibel. Com o auxílio financeiro, ela pretende pagar o aluguel, que ficou atrasado por um mês.
"Tem sido muito difícil. Minha filha ainda usa fralda, precisa de leite, e é difícil pagar por todas essas coisas. Muito obrigada a quem doou. Que Deus abençoe todos vocês. Quem ajuda, também é ajudado. Com a pandemia, vimos que todos nós precisamos uns dos outros", lembra Glayibel.
Texto e Fotos: Luciana Queiroz
Glayibel Cedeno, venezuelana de 21 anos, está há mais de um ano no Rio de Janeiro com a filha de quatro anos, após passar três anos em Roraima. Durante a pandemia, ela tem vivido a mesma dificuldade de muitas mulheres, além do risco do contágio: o fechamento da creche da filha tornou mais difícil a busca por uma nova oportunidade de emprego. "Trabalhava num restaurante, e estávamos bem, porque minha filha ficava na creche. Quando veio a pandemia, eu estava no trabalho há apenas dois meses. Como eu era nova, fui mandada embora. A situação ficou difícil, ruim. A creche fechou, e eu não tenho como arrumar um trabalho, com minha filha em casa e todo mundo com medo do coronavírus", contou Glayibel. Com o auxílio financeiro, ela pretende pagar o aluguel, que ficou atrasado por um mês.
"Tem sido muito difícil. Minha filha ainda usa fralda, precisa de leite, e é difícil pagar por todas essas coisas. Muito obrigada a quem doou. Que Deus abençoe todos vocês. Quem ajuda, também é ajudado. Com a pandemia, vimos que todos nós precisamos uns dos outros", lembra Glayibel.
Texto e Fotos: Luciana Queiroz
*Errata: Divulgamos em setembro que até o mês de julho deste ano, um total de 5.082 pessoas já haviam sido atendidas pela Cáritas RJ. Um erro em nosso sistema de dados duplicou o atendimento de algumas pessoas, elevando o número de atendidos. A informação atualizada e correta é que 3.475 pessoas foram atendidas pela Cáritas RJ até o mês de novembro de 2020.