Venezuelanas recebem oportunidade de recomeço em curso de moda e resiliência emocional
PARES Cáritas RJ se une ao Instituto Aliança e Instituto Renner, idealizadores do projeto Varejo Plural, para fornecer capacitação a pessoas venezuelanas e de países vizinhos, apostando na diversidade
Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2021 - Investir na inclusão, oferecendo oportunidades para pessoas em situação de vulnerabilidade e com dificuldades de inserção no mercado de trabalho é o objetivo do Varejo Plural, projeto idealizado pelo Instituto Aliança e Instituto Renner que capacitou 30 pessoas em sua última edição, entre elas seis mulheres venezuelanas encaminhadas pelo Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas do Rio de Janeiro.
A iniciativa da equipe de empregabilidade do PARES Cáritas RJ acontece no âmbito do projeto Oportunidades para Recomeçar, implementado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), com o objetivo de apoiar a integração econômica de venezuelanos e migrantes de países vizinhos no estado do Rio de Janeiro. De junho a outubro, têm sido oferecidos a esse público cursos de capacitação profissional, workshops e materiais informativos.
As pessoas inscritas no curso Varejo Plural receberam, entre julho e setembro, uma capacitação de 120 horas dividida em dois módulos: Resiliência Emocional e Projeto de Vida (REPVIDA), que abordou questões de resiliência emocional, e Habilidades Específicas em Moda (HEM), que apresentou os conceitos de circularidade e sustentabilidade, adotados pela Renner. A turma teve a oportunidade de aprender sobre como é a atuação de um consultor de moda no mercado de trabalho, além de ouvir profissionais da área, como o gerente de uma loja Renner, que explicou a metodologia de atendimento da empresa.
Segundo o Instituto Aliança, das 114 pessoas pré-inscritas por meio de diversas instituições, foi selecionado um grupo de 30 pessoas formado por pessoas negras, pessoas com deficiência (PCDs), pessoas LGBTQIA+ e pessoas maduras. As aulas foram realizadas na Torre do Shopping Rio Sul, onde há uma loja do Grupo Renner, que será repaginada.
Resiliência emocional
Como um módulo complementar à formação em Moda, o curso REPVIDA apresentou aos participantes, em sua maioria mulheres cis e trans, temas importantes, como relações familiares, práticas de autocuidado e resiliência emocional.
A educadora Vânia de Carvalho ressaltou a importância de uma formação profissional acompanhada da capacitação emocional para atuar no mercado de trabalho:
“Não adianta você preparar essa pessoa apenas para o mercado, sem trabalhar a parte emocional. A empresa pode dar a oportunidade de emprego, mas infelizmente não é possível garantir o comportamento do outro, e essas pessoas, que passaram muitas vezes por situações de preconceito, precisam estar preparadas emocionalmente para lidar com isso”.
A iniciativa da equipe de empregabilidade do PARES Cáritas RJ acontece no âmbito do projeto Oportunidades para Recomeçar, implementado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), com o objetivo de apoiar a integração econômica de venezuelanos e migrantes de países vizinhos no estado do Rio de Janeiro. De junho a outubro, têm sido oferecidos a esse público cursos de capacitação profissional, workshops e materiais informativos.
As pessoas inscritas no curso Varejo Plural receberam, entre julho e setembro, uma capacitação de 120 horas dividida em dois módulos: Resiliência Emocional e Projeto de Vida (REPVIDA), que abordou questões de resiliência emocional, e Habilidades Específicas em Moda (HEM), que apresentou os conceitos de circularidade e sustentabilidade, adotados pela Renner. A turma teve a oportunidade de aprender sobre como é a atuação de um consultor de moda no mercado de trabalho, além de ouvir profissionais da área, como o gerente de uma loja Renner, que explicou a metodologia de atendimento da empresa.
Segundo o Instituto Aliança, das 114 pessoas pré-inscritas por meio de diversas instituições, foi selecionado um grupo de 30 pessoas formado por pessoas negras, pessoas com deficiência (PCDs), pessoas LGBTQIA+ e pessoas maduras. As aulas foram realizadas na Torre do Shopping Rio Sul, onde há uma loja do Grupo Renner, que será repaginada.
Resiliência emocional
Como um módulo complementar à formação em Moda, o curso REPVIDA apresentou aos participantes, em sua maioria mulheres cis e trans, temas importantes, como relações familiares, práticas de autocuidado e resiliência emocional.
A educadora Vânia de Carvalho ressaltou a importância de uma formação profissional acompanhada da capacitação emocional para atuar no mercado de trabalho:
“Não adianta você preparar essa pessoa apenas para o mercado, sem trabalhar a parte emocional. A empresa pode dar a oportunidade de emprego, mas infelizmente não é possível garantir o comportamento do outro, e essas pessoas, que passaram muitas vezes por situações de preconceito, precisam estar preparadas emocionalmente para lidar com isso”.
A aluna Vanessa, de 26 anos, foi uma das pessoas que puderam aprender novas habilidades interpessoais.
No Brasil desde 2017, Vanessa é uma mulher trans que saiu da Venezuela devido à situação socioeconômica do país, em busca de uma vida mais estável. Após passar seis meses em Roraima, onde chegou a dormir em uma praça e em abrigos, ela desembarcou no Rio de Janeiro, trazida pelo processo de interiorização do governo federal. Ela conta que soube da oportunidade de capacitação pela equipe do PARES Cáritas RJ, que a avisou pelo celular: |
“Eu queria fazer algum curso, porque estou desempregada até agora. Precisei trabalhar na rua para sobreviver, mas parei por um tempo e aproveitei para me inscrever em busca de uma oportunidade de emprego. Espero que dê tudo certo”, diz, com esperança.
Vanessa conta que as aulas de moda e desenvolvimento pessoal a ajudaram a sentir-se mais confiante:
“O curso foi uma experiência legal, aprendi coisas que não sabia, perdi um pouco o medo de ser eu mesma. Depois do curso, tenho desempenhado uma boa comunicação. É muito importante que haja oportunidades para as pessoas LGBTQIA+, porque são portas que se abrem para nós. É muito complicado conseguir trabalho”.
Vânia destaca que a maioria dos alunos do curso nunca teve uma oportunidade de trabalho formal na vida. Por isso, muitos deles têm dificuldade para elaborar um currículo ou atuar em uma entrevista de trabalho. No curso, eles receberam orientações para construir um currículo profissional e treinamento para participar de processos seletivos. Além disso, também foram trabalhadas questões de identidade (“quem sou eu?”) e de empoderamento.
A venezuelana Leomarys, de 25 anos, considera a oportunidade uma experiência transformadora:
Vanessa conta que as aulas de moda e desenvolvimento pessoal a ajudaram a sentir-se mais confiante:
“O curso foi uma experiência legal, aprendi coisas que não sabia, perdi um pouco o medo de ser eu mesma. Depois do curso, tenho desempenhado uma boa comunicação. É muito importante que haja oportunidades para as pessoas LGBTQIA+, porque são portas que se abrem para nós. É muito complicado conseguir trabalho”.
Vânia destaca que a maioria dos alunos do curso nunca teve uma oportunidade de trabalho formal na vida. Por isso, muitos deles têm dificuldade para elaborar um currículo ou atuar em uma entrevista de trabalho. No curso, eles receberam orientações para construir um currículo profissional e treinamento para participar de processos seletivos. Além disso, também foram trabalhadas questões de identidade (“quem sou eu?”) e de empoderamento.
A venezuelana Leomarys, de 25 anos, considera a oportunidade uma experiência transformadora:
“Foi surpreendente, o curso superou as minhas expectativas. Além de tudo o que aprendi, a convivência com mulheres trans me ajudou a entender sua luta, possibilitando um crescimento pessoal, de respeito mútuo. Aprendi que cada um tem sua história, sua experiência de vida e uma bagagem diferente. Mas todos nós temos isso em comum: queremos uma oportunidade, uma chance de vencer”.
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Há quatro anos no Brasil, Leomarys formou-se em Gestão Cultural na Venezuela e hoje tem um empreendimento de confeitaria. Antes de morar no Rio de Janeiro, ela passou por Roraima, São Paulo e Recife, onde fez um curso para aprender a fazer bolos. Ela saiu da capital pernambucana quando a pandemia apertou. No Rio, chegou a trabalhar no restaurante de um amigo venezuelano nos meses de abril e maio. Mas o pequeno negócio não resistiu à crise, e ela ficou sem trabalho novamente.
No momento, ela vive das encomendas dos bolos e de pequenos bicos. Leomarys procurava emprego, quando foi avisada pela equipe da Cáritas RJ sobre o curso do Varejo Plural. Hoje, ela já faz planos e conta sua estratégia: espera conseguir uma oportunidade de trabalho que lhe dê uma renda fixa, para que ela possa investir em seus estudos e crescer.
Empregabilidade
Os participantes do curso que receberam certificação em Resiliência Sócio-Emocional e Moda poderão trabalhar na nova loja da Renner, que deve ser inaugurada em novembro, no Shopping Rio Sul. O ponto de venda será totalmente construído ou reformado com materiais recicláveis, sustentáveis e de baixo impacto.
Neste novo conceito de loja, a empresa pretende trazer mais inclusão e diversidade para sua equipe, explica a coordenadora local do Instituto Aliança, Jennifer Anjos: “A nova loja terá uma outra pegada, de sustentabilidade e circularidade. Queremos trazer um time diverso, com pessoas com diferentes orientações de gênero, culturas ou que estejam em situação de vulnerabilidade social.”
A previsão é que haja a inserção de 30% da turma na equipe da nova loja. Além disso, os Institutos Aliança e Renner buscam articular com outras empresas, incluindo estabelecimentos do shopping, para que estes também contratem essas pessoas, já capacitadas para o mercado de trabalho.
De acordo com o relatório Integração Socioeconômica de Migrantes e Refugiados Venezuelanos, elaborado pela OIM e Migration Policy Institute (MPI), o índice de desemprego entre migrantes ou refugiados venezuelanos que vivem no Brasil é significativamente maior do que entre os brasileiros, aumentando sobretudo após a pandemia. O mesmo estudo aponta que quanto mais tempo essa população passa nas comunidades que as acolheram, as chances de emprego e de integração aumentam.
O trabalho é a porta fundamental para uma integração bem-sucedida, no entanto, a qualidade desse trabalho também importa. De acordo com a pesquisa, cerca de 90% dos migrantes ou refugiados venezuelanos que vivem no Brasil estão no mercado informal, muito mais instável, sujeitos aos altos e baixos de crises econômicas ou ao desamparo no caso de problemas de saúde.
A informalidade também pode deixar esses profissionais mais vulneráveis a situações de exploração. Um emprego formal é o que deseja a venezuelana Janeska, de 27 anos, no Brasil há apenas 8 meses. Ela trabalhava em seu país como Técnica de Enfermagem e vê no curso de Moda uma oportunidade para recomeçar:
A informalidade também pode deixar esses profissionais mais vulneráveis a situações de exploração. Um emprego formal é o que deseja a venezuelana Janeska, de 27 anos, no Brasil há apenas 8 meses. Ela trabalhava em seu país como Técnica de Enfermagem e vê no curso de Moda uma oportunidade para recomeçar:
“Estou muito agradecida à equipe do Varejo Plural, porque não são todas as empresas que ajudam migrantes e refugiados. Nem todos nós temos esta oportunidade, por isso estou aproveitando o máximo que posso, aprendendo sobre moda e a ser uma profissional melhor com a professora Vânia, que nos ensina muitos valores, de respeito e de responsabilidade.
Antes, eu não conhecia ninguém e tinha medo de sair sozinha. Agora, vou a todos os lugares. Não sabia muito o que esperar e aprendi mais do que eu imaginava.”
Texto e fotos: Luciana Queiroz
Antes, eu não conhecia ninguém e tinha medo de sair sozinha. Agora, vou a todos os lugares. Não sabia muito o que esperar e aprendi mais do que eu imaginava.”
Texto e fotos: Luciana Queiroz