Foto de venezuelanos desnutridos sensibiliza brasileiro e motiva refúgio
Professor de História que havia conhecido jovem em 2013, no RJ, viu imagem nas redes sociais e decidiu financiar vinda de casal ao Brasil.
Aníbal e Melissa em dois momentos: 2018 e 2019. Com quase 20kg abaixo do peso normal, venezuelano conseguiu ajuda para deixar o país.
Rio de Janeiro, 02 de maio de 2019 - Uma foto mudou a vida de um casal de jovens venezuelanos. A imagem, postada em uma rede social, chocou um brasileiro no Rio de Janeiro e permitiu que Aníbal Jimenez Mendoza, de 26 anos, e Melissa Mendoza Sánchez, de 23, conseguissem os recursos que precisavam para deixar a Venezuela e vir para o Brasil. Já empregados e ajudando a família, que continuou no país de origem, os dois agora sonham com casamento, estudos e uma qualidade de vida melhor.
Tudo começou em 2013, quando o jovem venezuelano, que ainda não conhecia a namorada na época, veio ao Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial da Juventude, evento da Igreja Católica. Foi durante a semana missionária que ele conheceu o professor de História Luiz Vagner Costa e a sua esposa, Natalie Santos. O contato entre eles continuou após o evento e o retorno de Anibal para casa, mas a amizade virou preocupação em junho de 2018, quando o brasileiro viu uma fotografia do venezuelano no Facebook.
"Por conta da crise política e alimentar pela qual a Venezuela está passando, eu estava muito magro. Quando me conheceram, eu pesava 64kg, e na imagem eu aparecia com 47kg. Não estava comendo direito, quase não comia carne ou frango, por exemplo", lembra o refugiado.
Assustado, o casal de brasileiros resolveu tomar uma atitude. "Dividi as passagens no cartão, mandei o dinheiro e confiei", explicou o professor. Vieram Aníbal, Melissa e uma amiga. Depois, segundo Vagner, seus alunos se sensibilizaram com a história e ajudaram a pagar parte do dinheiro dispensado. Com os recursos, os venezuelanos conseguiram viajar até a fronteira com o Brasil. Em Boa Vista, tomaram um voo para o Rio de Janeiro.
"Eu vim porque foi a única oportunidade que tinha para sair do meu país. O sr. Vagner me deu essa ajuda e eu aproveitei. Meu objetivo principal é auxiliar minha família, meus amigos, e mandar dinheiro para lá, para que possam comer direito. Com a ajuda de Deus, tudo vai dar certo, já está dando", explica o venezuelano.
Vagner lembra que a empreitada foi cheia de percalços. Primeiro, os venezuelanos perderam o ônibus que saía de Caracas. Tiveram que comprar novas passagens, mas o valor havia triplicado devido a uma greve de caminhoneiros. "Foi uma chegada conturbada, mas de muita alegria porque estávamos conseguindo atingir a meta que era trazê-los pra cá. Quando eles vieram, foi um período apreensivo porque também havia violência na fronteira, mas eles chegaram bem", conta o professor.
Hoje Aníbal e Melissa moram na casa do brasileiro, em São Gonçalo (RJ). A adaptação foi difícil, pela separação da família, pela saudade e, sobretudo, pela língua. Os venezuelanos admitem que ainda estão aprendendo português e destacam a importância do curso oferecido pelo PARES Cáritas RJ neste momento inicial. "Era difícil não entender o que falavam os brasileiros. Mas, com o tempo, estudando um pouco, consegui entender e falar melhor", conta Melissa. Seu namorado também elogia a solidariedade do povo brasileiro, que doou alimentos, eletrodomésticos, colchão e roupas, entre outros itens.
Foi também por meio dessa solidariedade que eles conseguiram arrumar trabalho. O primeiro emprego veio por intermédio de um amigo do professor. Em setembro de 2018, ele e a namorada foram contratados por uma loja de utilidades em São Gonçalo – ele na área administrativa e ela como operadora de caixa. "Gostaram da nossa história e quiseram ajudar com o emprego", lembra Aníbal.
O venezuelano vê chances de crescimento interno. Começou como ajudante na loja, agora trabalha no estoque e sonha com o cargo de gerente. Tem ainda o objetivo de estudar Fisioterapia ou Administração – o que não conseguiu fazer no país de origem. Devido à crise, teve que largar os estudos para trabalhar. Por falta de dinheiro, Melissa também não terminou as duas faculdades que fazia, Medicina e Gastronomia. Agora, pretende cursar Nutrição. O amigo Luiz Vagner Costa apoia e faz previsões positivas.
"Eu enxergo um futuro brilhante para eles, porque estão muito dispostos a correr atrás, sempre querendo aprender e crescer. Contratar refugiados é maravilhoso e favorável”, opina o professor.
No âmbito pessoal, eles pretendem se casar nos próximos meses, de preferência durante uma viagem de férias à Venezuela, para estarem com suas famílias. Aníbal explica melhor os objetivos:
"Queremos formar uma família, com uma qualidade de vida melhor, sem passar necessidade. Quero ser um bom pai, ser um exemplo para o meu filho, de quem ele possa ter orgulho. Tudo o que está acontecendo é vontade de Deus, e essa vontade é que está me movimentando. Não me arrependo de nada. E achamos que aqui no Brasil podemos atingir essas metas."
Texto: Caroline Durand
Foto: Arquivo Pessoal
Tudo começou em 2013, quando o jovem venezuelano, que ainda não conhecia a namorada na época, veio ao Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial da Juventude, evento da Igreja Católica. Foi durante a semana missionária que ele conheceu o professor de História Luiz Vagner Costa e a sua esposa, Natalie Santos. O contato entre eles continuou após o evento e o retorno de Anibal para casa, mas a amizade virou preocupação em junho de 2018, quando o brasileiro viu uma fotografia do venezuelano no Facebook.
"Por conta da crise política e alimentar pela qual a Venezuela está passando, eu estava muito magro. Quando me conheceram, eu pesava 64kg, e na imagem eu aparecia com 47kg. Não estava comendo direito, quase não comia carne ou frango, por exemplo", lembra o refugiado.
Assustado, o casal de brasileiros resolveu tomar uma atitude. "Dividi as passagens no cartão, mandei o dinheiro e confiei", explicou o professor. Vieram Aníbal, Melissa e uma amiga. Depois, segundo Vagner, seus alunos se sensibilizaram com a história e ajudaram a pagar parte do dinheiro dispensado. Com os recursos, os venezuelanos conseguiram viajar até a fronteira com o Brasil. Em Boa Vista, tomaram um voo para o Rio de Janeiro.
"Eu vim porque foi a única oportunidade que tinha para sair do meu país. O sr. Vagner me deu essa ajuda e eu aproveitei. Meu objetivo principal é auxiliar minha família, meus amigos, e mandar dinheiro para lá, para que possam comer direito. Com a ajuda de Deus, tudo vai dar certo, já está dando", explica o venezuelano.
Vagner lembra que a empreitada foi cheia de percalços. Primeiro, os venezuelanos perderam o ônibus que saía de Caracas. Tiveram que comprar novas passagens, mas o valor havia triplicado devido a uma greve de caminhoneiros. "Foi uma chegada conturbada, mas de muita alegria porque estávamos conseguindo atingir a meta que era trazê-los pra cá. Quando eles vieram, foi um período apreensivo porque também havia violência na fronteira, mas eles chegaram bem", conta o professor.
Hoje Aníbal e Melissa moram na casa do brasileiro, em São Gonçalo (RJ). A adaptação foi difícil, pela separação da família, pela saudade e, sobretudo, pela língua. Os venezuelanos admitem que ainda estão aprendendo português e destacam a importância do curso oferecido pelo PARES Cáritas RJ neste momento inicial. "Era difícil não entender o que falavam os brasileiros. Mas, com o tempo, estudando um pouco, consegui entender e falar melhor", conta Melissa. Seu namorado também elogia a solidariedade do povo brasileiro, que doou alimentos, eletrodomésticos, colchão e roupas, entre outros itens.
Foi também por meio dessa solidariedade que eles conseguiram arrumar trabalho. O primeiro emprego veio por intermédio de um amigo do professor. Em setembro de 2018, ele e a namorada foram contratados por uma loja de utilidades em São Gonçalo – ele na área administrativa e ela como operadora de caixa. "Gostaram da nossa história e quiseram ajudar com o emprego", lembra Aníbal.
O venezuelano vê chances de crescimento interno. Começou como ajudante na loja, agora trabalha no estoque e sonha com o cargo de gerente. Tem ainda o objetivo de estudar Fisioterapia ou Administração – o que não conseguiu fazer no país de origem. Devido à crise, teve que largar os estudos para trabalhar. Por falta de dinheiro, Melissa também não terminou as duas faculdades que fazia, Medicina e Gastronomia. Agora, pretende cursar Nutrição. O amigo Luiz Vagner Costa apoia e faz previsões positivas.
"Eu enxergo um futuro brilhante para eles, porque estão muito dispostos a correr atrás, sempre querendo aprender e crescer. Contratar refugiados é maravilhoso e favorável”, opina o professor.
No âmbito pessoal, eles pretendem se casar nos próximos meses, de preferência durante uma viagem de férias à Venezuela, para estarem com suas famílias. Aníbal explica melhor os objetivos:
"Queremos formar uma família, com uma qualidade de vida melhor, sem passar necessidade. Quero ser um bom pai, ser um exemplo para o meu filho, de quem ele possa ter orgulho. Tudo o que está acontecendo é vontade de Deus, e essa vontade é que está me movimentando. Não me arrependo de nada. E achamos que aqui no Brasil podemos atingir essas metas."
Texto: Caroline Durand
Foto: Arquivo Pessoal